segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Avaliação da aprendizagem... mais uma vez

Aqui voltamos a tratar da avaliação, por meio do decálogo de um texto, evidenciamos as principais partes do mesmo, onde podemos observar novamente a prática exaustiva da pedagogia do exame, inclusive demonstrado pelo foco das escolas em aulas que busquem apenas a passagem do aluno do ensino médio para uma graduação nas universidades, este é um dos exemplos do erro que as escolas e alguns professores cometem nos dias atuais. A seguir leia mais sobre essa prática errônea e métodos para ultrapassá-la. 



“Antes, eu ouvia as crianças dizendo – “Hoje, tivemos uma atividade legal na escola” –, agora, ouço-as dizendo: “Tirei 3.2, valendo 5” [...]”. (p.61/62)
Podemos observar que a mudança de conceitos entre os alunos com o passar das séries é quase que imediata, e constata-se que o próprio regime escolar é que os constrói com essa concepção.


“[...] as crianças já haviam mudado sua linguagem e seu modo de ser, vivido durante os longos anos de escola maternal, pré-escola e séries iniciais do ensino fundamental. Elas vinham de uma experiência de investimento no processo e passaram para uma experiência de investimento no produto e esse fato é fundamental para compreender esta mudança.” (p.62)
Um grande questionamento é sobre a mudança de metodologia, mudando um tipo de abordagem que praticamente foi a base do ensino para o aluno, para outro que apenas visa a classificação, se até algumas séries iniciais do ensino fundamental os alunos estavam indo bem, por que mudar a metodologia a ser usada?

“[...] Ao ato de examinar não importa que todos os estudantes aprendam com qualidade, mas somente a demonstração e classificação dos que aprenderam e dos que não aprenderam. E isso basta.” (p.62)
Percebe-se que o tipo de abordagem avaliativa utilizada para a maioria dos professores e institutos educacionais é basicamente a do exame, onde é visto apenas se o aluno foi aprovado ou reprovado, ou seja, não tem uma visão futurística de que aquele conhecimento que o aluno deixou de aprender poderá prejudica-lo no futuro.

“[...] ao ato de avaliar tem como função investigar a qualidade do desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma intervenção para a melhoria dos resultados, caso seja necessária. Assim, a avaliação é diagnostica.” (p.62)
Outra concepção é a avaliação consciente, ou o melhor modo de avaliar o conhecimento adquirido pelo estudante, a qual não visa a classificação e sim a educação, onde verifica-se que este método busca identificar falhas no aprendizado do aluno, para que estas possam ser sanadas e aperfeiçoadas.

“O processo compõe-se do conjunto de procedimentos que adotamos para chegar ao resultado satisfatório; o que nos motiva, no caso, é a obtenção do melhor resultado. Produto, por sua vez, significa o resultado final ao qual chegamos e, na escola, infelizmente, admitimos que ele é o suficiente do “jeito que ele se manifesta”.” (p.63)
Entende-se que há duas possibilidades de haver uma avaliação, uma que seria chamada de processo, onde ela é voltada para que o aluno atinja metas, e que se essas metas não forem atingidas então deve-se haver maneiras com que o aluno consiga atingi-la, que no caso seria a não aprendizagem do assunto. A outra possibilidade seria o produto, onde basicamente não leva-se em conta o aprendizado e sim a notação, não há maneira de repor o que ficou para trás, tornou-se passado.

“Se, dessa forma, investimos no produto, qualquer resultado está bom, pois que dizemos que o estudante foi o responsável por obter somente a nota que tirou, e acreditamos que ela expressa o que ele aprendeu [...] por isso, damos por encerrado o processo. [...] Se por outro lado investimos no processo, o resultado da aprendizagem, vai ser qualificado em satisfatório ou insatisfatório. Se for satisfatório, está bem; porém, se for insatisfatório, há que se intervir para que a aprendizagem se manifeste satisfatória.” (p.63)
Dessa forma pode-se deduzir que um modelo se sobressai ao outro e teoricamente o modelo que investe no produto é inferior ao que investe no processo, porém há que se ressaltar que deve-se notar alguns fatores para que a maioria da metodologia seja feita com o método do produto, como a formação precária do professor, a contrariedade dos responsáveis pela educação brasileira e principalmente pela necessidade da qualificação e quantificação no sistema econômico capitalista.

“Tantos os atos de centrar nossa atenção exclusivamente sobre o produto ou sobre o processo da aprendizagem na escola, seguido do melhor produto, dependem da concepção que temos sobre o ser humano e sua trajetória de vida, ou seja, dependem da teoria pedagógica e do projeto pedagógico, que temos.” (p.63)
A autor enfatiza que a escolha ou abordagem utilizada pelo professor ou por nós de uma forma de ensinar geral é dada através de conceitos adquiridos no nosso dia-a-dia, assim como as crianças tentam “imitar” os adultos, nós seres mais crescidos tentamos reproduzir o que é nos passado, logo como os alunos estão sendo formados nas escolas? Exatamente, se estes passam por uma pedagogia que objetiva o produto este estará propenso a segui-la da mesma forma que foi o ensinado. Então devemos mudar vários fatores para que haja uma melhora no ensino, é muito mais complicado do que aparenta.

“A pedagogia que sustenta o exame se contenta com a classificação seja ela qual for; a pedagogia que sustenta o ato de avaliar não se contenta com qualquer resultado, mas somente com o resultado satisfatório. [...] O ato de avaliar dedica-se a desvendar impasses e buscar soluções.” (p.64)
Então podemos concluir que o ato de avaliação de aprendizagem com o passar dos anos foi adquirindo um conceito errôneo, o qual visa apenas classificar, dividir e excluir pessoas, onde o qual deveria servir como uma possibilidade a mais de proporcionar uma aprendizagem completa ao aluno. Infelizmente esta é a realidade vivida pelas escolas brasileiras na atualidade.



“Qual será a pedagogia que está por detrás da atividade escolar que se centra na preparação dos estudantes quase que exclusivamente para o vestibular, que é um exame? [...] Então, não vamos preparar nossos educandos para o vestibular? Claro que sim; contudo o vestibular permanece como “uma” das atenções da prática educativa escolar, não a única.” (p.64)
Nestas indagações feitas pelo autor consegue-se enxergar sua preocupação quanto a centralização dos alunos em torno da prova do vestibular, que claramente aplica o método do exame com os estudantes. Como o autor afirma, não podemos mudar tudo, infelizmente é necessário haver uma classificação, pois não há vagas suficientes, porém ele busca salientar que deveriam mudar a concepção de centralização do vestibular, estimulando o aluno a desenvolver suas habilidades e inserir o vestibular como uma parte do estudo, e não como o principal alvo e que acabam fazendo com que os estudantes tenham exames que os ameaçam e geram extrema ansiedade.

“[...] o melhor diagnóstico possibilitará a melhor intervenção e, consequentemente, os melhores resultados. [...] E, então, nossas crianças e nossos adolescentes criarão para si mesmos valores, que os orientarão na vida para dar o melhor de si naquilo que fazem, com cuidado e com alegria, muito além do cumprimento de uma tarefa para somente, e tão somente, “tirar uma nota”.” (p.65)
Por fim podemos notar que mesmo querendo ajudar alguns professores acabam dificultando ainda mais, pois mesmo tendo ou fazendo uma pedagogia que favoreça o processo, se não for bem feito acabará prejudicando o próprio aluno. Então concluo que se utilizado de forma correta a ênfase no processo em torno da aprendizagem é muito benéfica para o alicerce do estudante, com esse modelo o aluno ficará mais livre, menos pressionado pela responsabilidade da nota, então estará mais propicio a aprender e a fazer isso com gosto e não apenas porque é necessário e obrigado.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem... mais uma vez. In: LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p.61-65.

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